terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Coração Pescador.


   Então ele surge. Ela a princípio pensa que aquilo pode ser bem divertido e deixa as coisas fluírem. Ele mantém uma conversa boa, e a medida que inventa mais histórias para avançar na investida com ela, a garota prende o riso, pois é preciso fingir que tudo é absolutamente normal, sem segundas, terceiras, quartas intenções. 

   As coisas evoluem e tudo vai maravilhosamente bem. A essa altura não é preciso mais tanta criatividade. A missão foi cumprida: ela foi conquistada. Os dois sentem algo que foge de qualquer coisa real. Na verdade, tudo é real, mas diante do ineditismo as pessoas se convencem de que isso não pode ser algo desse mundo. E para ela, então? Algo surreal! Nunca havia sentido aquilo antes. Era sentimento, era conforto, era desejo e era vontade. Não sabia muito como lidar com essas coisas e até se assustava, enquanto ele simplesmente adorava aquela situação, estar naquela situação. E embora as reações fossem diferentes, a verdade é que tudo para eles era muito bom. Muito bom para ser verdade. 

   Eis que as verdadeiras verdades começam a surgir. Novas faces aparecem. Faces que até então estavam ofuscadas pela intensidade de sentimentos que transbordavam de seus corpos. A verdade trouxe a realidade da vida real, chacoalhando aquelas mentes entorpecidas, tirando-as de seus devaneios, para enfim colocarem seus pés firmes ao chão. E como isso foi decepcionante! Infelizes descobertas sobre alguém pode ter o efeito mais desestimulante do mundo. É como curtir um beijo vagarosamente enlouquecedor, e depois descobrir que tudo não passou de um sonho, embora se pudesse jurar que fosse real, visto a própria postura ao acordar: boca aberta, corpo entregue, falta de fôlego. Inacreditável, mas apenas um sonho.

   E assim ela acordou, se sentindo péssima por deixar tudo chegar até ali, por não ter sido boa o bastante para enxergar logo o problema que viria a ter. Defeitos que até então passaram despercebidos, agora estavam tão visíveis, tão explícitos, tão incômodos, tão... insuportáveis. Talvez fosse possível passar por cima disso, talvez fosse cômodo fingir que não percebia nada. Mas ela achou que talvez seria bom admitir para si mesma que o começo das coisas são sempre flores, que a empolgação cega, que ela sabia de tudo isso, e que no fim das contas, se deixou iludir. A verdade é mesmo uma senhora curta e grossa. Não interessa se você gosta ou não dela, ela está aí baby, e é assim que as coisas são. 

   Nada mais era como antes. Ela o enxergava bem agora. Ele provava a cada descuido que ela não era uma neurótica exagerada. Aquilo que lhe faltava atrapalhava, machucava, e sobretudo, decepcionava. Ela criou esperanças com ele, e ele com ela. Ela sabia que tudo poderia não ser intencional, mas não havia tempo para esperar por uma mudança. Ela tem urgência, quer ancorar no porto. Ele tem que pegar com o tempo as manhas de um marujo. Então ela simplesmente pula fora do barco. E embora seu coração finja olhar novos horizontes, muitas pulsões ainda são por causa dele. Talvez leve um tempo para que ela possa se lembrar de tudo sem se sentir sedada, mas é claro que algo assim tão forte deixa memórias que ficam e nunca mais vão embora. Quem sabe, em um futuro próximo, a bela navegante possa conhecer e mergulhar fundo em outros oceanos.
      

2 comentários:

  1. Nos apaixonamos não só pela pessoa em si,nos apaixonamos por uma vida que imaginamos ser trazida nas mãos daquele,que à um determinado momento,percebemos que vem de mãos vazia,e estendidas a pedir ,o que não temos pra dar nem pra nós mesmas.
    Amor é outra coisa....
    bjssss,adorei :)

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